Cultura pop em destaque no I Simpósio Cultpop

A comunidade de acadêmicos que se interessam e pesquisam objetos e temas relacionados à cultura pop pôde desfrutar de dois dias de encontro e muita discussão sobre essa cultura no evento que ocorreu na virada do mês em Porto Alegre.

Com a data temática do Halloween e Dia do Saci, o I Simpósio Cultpop iniciou no dia 31 de outubro, uma quinta-feira, e seguiu até 01 de novembro de 2019, na Unisinos – campus Porto Alegre.  Conforme o Dr. Rafael Grohmann, professor na Unisinos, “o I Simpósio Cultpop mostra a importância e a centralidade dos estudos de cultura pop na comunicação e, mais do que isso, coloca o cultpop como protagonista dessa área no Brasil”.

A seguir, fizemos um breve apanhando do que aconteceu durante o evento. Vem conferir!

Painéis: ciência, narrativas e horror

A programação contou com quatro painéis nas manhãs e noites que reuniram pesquisadores e profissionais de diferentes áreas da cultura pop. Nas manhãs, os painéis focaram na cultura pop na ciência, seja ao discutir sua trajetória acadêmica, conceitos e diferentes abordagens, quanto na difusão da ciência através do pop.

Com o título “A pesquisa em cultura pop no Brasil: abordagens teóricas, enfrentamentos, trajetórias e contextos”, a profa. Dra. Adriana Amaral (Unisinos) trouxe definições e panorama dos estudos de cultura pop no Brasil. Em seguida, o prof. Dr. Thiago Soares (UFPE), focou na importância de descolonizarmos a pesquisa do pop no Brasil devido à literatura estrangeira que dá base teórica mas não consegue dar conta de nossa realidade. Por último, o prof. Dr. Gelson Weschenfelder (Unilassalle) apresentou dados sobre a realidade da pesquisa em história em quadrinhos no país.

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Já na segunda manhã, em “Linguagens da cultura pop e a popularização da ciência: a escrita acadêmica e a divulgação das pesquisas”, a doutoranda Larissa Becko (Unisinos) mostrou como foi o processo de adaptar sua dissertação de mestrado em uma história em quadrinhos através de financiamento coletivo via Catarse (“Caçadora de fãs”). O prof. Dr. Gustavo Fischer (Unisinos) problematizou a questão de pesquisar na internet quando arquivos, sites e apps somem, são apagados ou cancelados, trazendo recursos para recuperar esses arquivos. Finalizando o painel, o prof. Dr. Rafael Grohmann (UNISINOS) destacou a importância de “popularizar a epistemologia e epistemologizar a cultura pop”, exemplificado como usou a dublagem de cenas de videoclipes e novelas como recurso de ensino ao ministrar a disciplina de teorias da comunicação.

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Os painéis da noite focaram em temas mais específicos do pop. Em “Narrativas, distopias e fantasias: movimentos da cultura pop no contexto brasileiro”, o prof. DrEneias Tavares (UFSM) discutiu a difusão da literatura brasileira através de seu trabalho multimídia “A Todo Vapor!”, websérie steampunk com heróis brasileiros, associada com livros protagonizados por Juca Pirama e Capitu, além de card game. O professor e artista do Dinamo Estúdio Róger Goulart trouxe como tema o afrofuturismo, resgatando sua experiência pessoal e apresentando suas criações para quadrinhos em que a negritude e traços étnicos compõem suas ilustrações. Já, a Dra. Giovana Carlos (Unisinos) falou sobre a representação e escrita de mulheres na fantasia, tanto na literatura quanto televisão.

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O último painel, “A noite é escura e cheia de horrores: terror e horrores na e da cultura pop”, evidenciou a data do simpósio e o encerrou. Com mediação da artista gráfica Mari Couto, a fala inicial foi via teleconferência, com a pesquisadora e blogueria do “Fright Like a Girl”, Jéssica Reinaldo, discorreu sobre a importância das mulheres diretoras e escritoras de terror no Brasil, destacando os principais nomes da atualidade. Já o prof. Dr. Claudio Zanini (UFRGS) trouxe o conceito de horror para discussão e mostrou a relação do contexto histórico norte-americano para as tramas filmográficas desde os anos 1960 até a atualidade. Fechando o simpósio, o doutorando da Unisnos Christian Gonzatti apresentou parte de sua pesquisa que aborda discursos de ódio e preconceito assim como censura na cultura pop, como no recente caso ocorrido na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, envolvendo a censura de HQ devido a beijo entre dois garotos.

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Além das discussões acadêmicas, ao final de cada painel foram sorteados diversos brindes dos apoiadores: AVEC EditoraLoja NerdzDarkside BooksGaleria Hipotética e Dínamo Estúdio. Foram livros, quadrinhos, cupom de descontos entre outros objetos presenteados para os ouvintes.

Diversidade nas sessões de trabalhos
Em ambas as tardes, ocorreram 16 sessões de apresentação de trabalhos. Devido ao grande número de trabalhos inscritos, 81 ao todo, foram quatro sessões simultâneas por período. Entre os temas, destacaram-se em quantidade os estudos de fãs (duas sessões) e estudos interseccionais e de representação (cinco sessões), principalmente voltados para o gênero feminino.

Entre os participantes, havia professores e pesquisadores de diferentes áreas como Comunicação, Letras, Escrita Criativa, Artes, Pedagogia, Psicologia e Matemática. Algumas sessões demarcaram mais algumas áreas, como a “Narrativas literárias e crítica” e, outras como a “Cultura pop nas práticas educativas” conseguiram reunir diversas áreas. Desta, a mediadora Dra. Lucina Bach destaca que a sessão acabou “reunindo pesquisadores de quadrinhos, animação e jogos, preocupados com as possíveis relações estabelecidas entre tais objetos e as atividades de sala de aula, nos mais diversos níveis de ensino. Irmão do Jorel, jogos de tabuleiro, Cavaleiros do Zodíaco, Rurouni Kenshin, Chico Bento e trabalhos autorais foram alguns dos temas discutidos, gerando um debate profundo sobre o papel da cultura pop e as práticas de ensino e aprendizagem”.

Na sessão “Cultura Participativa: TV, Cinema e Memes”, o mediador Me. Eloy Vieira contou que a discussão gerou em torno das intersecções e possibilidades metodológicas, dos fenômenos da televisão e do audiovisual ligados à internet, sendo métodos como a cartografia, a análise do discurso e de conteúdo, entre outras, destacadas.

Conforme, o mediador Me. Felipe Stivalet, “a sessão de ‘Estudos de Música na Cultura Pop’ expandiu alguns dos debates que temos nas interfaces entre comunicação, som e música no Brasil, e que incluem o colóquio poderes do som, realizado nos dias 24 e 25/10, e que também contou com a co-organização do Cultpop. Foi uma oportunidade para os pesquisadores e pesquisadoras experimentarem a partir de seus trabalhos de investigação ou consolidarem seus projetos em andamento”.

Como o Cultpop apoia a participação ativa das mães acadêmicas, durante a abertura das sessões o seguinte aviso era dado aos participantes: “O Simpósio Cultpop apoia as mães acadêmicas, no movimento contra a evasão dessas mulheres na participação da vida acadêmica, por isso, pedimos a todos a compreensão quanto à presença de bebês e crianças que poderão fazer barulho, e das mães que poderão sair e voltar da sala a qualquer momento, ou mesmo embalar seus bebês no colo pela sala”. A ideia foi bem aceita por todos e a mais jovem participante passou de colo em colo espalhando fofura.

A importância de reunir pesquisadores da cultura pop

O pop é uma cultura midiática que nos cerca cotidianamente. São as telenovelas, séries, filmes, músicas, livros, quadrinhos, cosplays entre tantos outros que consumimos e produzimos (geralmente entendido como práticas de fãs) no nosso dia-a-dia. Porém, nem sempre essa cultura é observada cientificamente, ou pior, dada a sua respectiva relevância. Durante e após o Simpósio Cultpop, foi possível ouvir vários elogios e relatos pela organização do evento.

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Em seu perfil do instagram, a Dra. Poliana Lopes, publicou: “Nesses anos na Academia, algumas vezes senti o olhar de cobrança, de ‘minha pesquisa vale mais que a tua’ e vi suspiros de ‘por que estudar essa bobagem de Twitter que ninguém usa e a novela na tv que ninguém vê?’ Eu me sentia importante por defender a relevância de produtos culturais contemporâneos, mesmo que me sentisse sozinha em vários momentos. Provavelmente por isso foi tão bom estar no I Simpósio Cultpop […] Fiquei com o coração quentinho por estar ao lado de pessoas de todo o Brasil, em diferentes níveis acadêmicos, que pesquisam quadrinhos, filmes, música, televisão, seriados, gifs, memes e outros elementos da cultura pop, a partir das mais variadas perspectivas (consumo, recepção, gênero, raça, discurso, etc). Sem preconceito acadêmico, sem suspiro ou olho revirado. Apresentei os resultados da minha tese e esse momento resultou em trocas, conversas, valorização do trabalho do outro e muito, mas muito aprendizado”.

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Há mais do que os relatos que mostram a realidade que muitos pesquisadores da cultura pop enfrentam. A doutoranda da UFPE e bolsista Capes, Michele Wadja, que veio de Recife/PE para o simpósio, destaca que “foi uma experiência incrível participar do I Simpósio Cultpop – Cultura Pop, Comunicação e Tecnologias. A abertura para diferentes pesquisas, não só na área de comunicação foi uma marca do evento. Ações como essas são fundamentais para a promoção de uma ciência sintonizada entre a produção cultural, a academia e as diferentes maneiras de perceber e vivenciar a Cultura Pop. Além disso, o evento foi extremamente organizado, com vários painéis e sessões interessantes. Tenho certeza de que esta foi a primeira de muitas edições exitosas que virão!”.

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A coordenadora do curso de Design Gráfico da Unicuritiba, Adrianne Linhares, conta também ter gostado muito do simpósio “e que trouxe um impacto muito positivo a toda a nossa pesquisa. Isso é construir conhecimento, pensamento e humanidade. E o melhor, como sempre digo aos colegas e alunos: a vida acadêmica, o trabalho e a pesquisa, devem ser enjoyable, acima de tudo. Precisamos amar o que fazemos. Foi TUDO, valeram as 9:30 de ida e mais isso de volta, em nome dos dias repletos que tivemos por aí! 🖤”.

Além das questões acadêmicas, a organização do evento salientou a todos que era possível o uso de roupas e acessórios que remetessem à algum título da cultura pop, o que resultou em uma variedade de pessoas vestidas com a camiseta de suas séries preferidas.

Com a grande participação de pesquisadores da cultura pop e os resultados positivos, o Cultpop se organiza para uma segunda edição do simpósio em 2020. Acompanhe as redes sociais do grupo de pesquisa para não perder o próximo!

Colóquio Poderes do Som tem suas palestras disponíveis no YouTube


Colóquio Poderes do Som foi organizado pelo GEIST/UFSC em parceria com o CULTPOP realizado no LABTICS da Unisinos durante os dias 24 e 25 de Outubro de 2019 e agora a palestra do convidado Dr. Tim Taylor (UCLA) e as 3 mesas de apresentação de trabalhos estão disponíveis no YouTube do PPG Ciências da Comunicação da UNISINOS. Confira no link abaixo.

#02DivãPop -Poderes do Som. Entrevista coletiva com o etnomusicólogo Tim Taylor (UCLA)

O segundo episódio do podcast Divã Pop já está disponível. Nele trazemos um bate-papo coletivo com Dr. Timothy Taylor, professor e pesquisador de etnomusicologia da University of California (UCLA) a respeito de circulação, valores, trocas, música e sonoridades a partir de sua fala no Coloquio Poderes do Som, organizado pelo GEIST – Grupo de Estudos em Imagem, Sonoridades e Tecnologias da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e o CULTPOP da Unisinos com o apoio do CNPq. O podcast foi gravado durante o Coloquio Poderes do Som realizado no LABTICS da Escola da Indústria Criativa da Unisinos em São Leopoldo/RS entre os dias 24 e 25 de Outubro de 2019 no qual o professor foi o keynote speaker (palestrante convidado). Participaram do podcast, os pesquisadores Dr. José Claudio Castanheira (Coordenador do GEIST/UFSC), Dra. Mel Santos (PUCRS), Dr. Pedro Marra (UFES) e Me. Cassio de Borba Lucas (GEPESC/UFRGS), com a mediação de Adriana Amaral, coordenadora do CULTPOP. 

Na entrevista discutiu-se a questão conceitual dos fluxos da música na atualidade das mídias tradicionais às midias sociais, a importância das rádios universitárias, as trocas e a circulação da música na cena californiana de indie rock Echo Park – objeto de estudo de Tim – e as limitações do método etnográfico na pesquisa de cenas musicais entre outros temas. O episódio conta com a edição de Diego Leite de Oliveira (LABTICS) e com a trilha “Heaven” da banda Stale Bread.